quarta-feira, 1 de junho de 2011

MUROS E BONS PAGADORES .


Innocente

Os muros, por mais que a história das civilizações demonstre que nunca funcionaram, são usados até hoje com o propósito de proteger ou de isolar. Foi assim em Berlim, está sendo no Oriente Médio. Bem, em São Paulo crescem para proteger moradores que ainda não perceberam que os bandidos chegam pela entrada social, com metralhadoras ou controle remoto.

As listas, intencionadas em premiação ou punição, dificilmente conseguem alcançar funcionalmente o objetivo inicial. Com o decorrer do tempo as de privilégios são aumentadas e as punitivas reduzidas.

Em suma, listas e muros não se sustentam, nascem com o mesmo objetivo e morrem do mesmo modo. Imprestáveis.

O Legislativo nacional acaba de aprovar o Cadastro Positivo, uma lista que pretende beneficiar os totalmente adimplentes. E, que mesmo depois de vetado pelo Executivo e receber muitas retificações, não deve beneficiar os consumidores, foco aparente do projeto.

A redução do custo do dinheiro, argumento básico do lobby do sistema financeiro é falácia, pois hoje existem vasos comunicantes afiados dentro destas entidades e o inadimplente é automaticamente identificado.

A autorização do cidadão à inclusão do seu nome no Cadastro Positivo é discutível, pois a negação levará a considerá-lo mau pagador, e ficar do outro lado do muro.

Ao permitir incluir o seu nome, estará dentro do muro, mas correndo o risco de informações financeiras particulares serem divulgadas e manipuladas para ofertas comerciais e financeiras.

A advogada Maria Inês Dolci, Coordenadora do Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) questiona: “Pessoas que atrasaram parcelas de um empréstimo não são, necessariamente, péssimos pagadores ou caloteiros. Podem ter enfrentado problemas de saúde ou desemprego. Governos caloteiam os precatórios. Estarão fora da lista positiva? E quem garante que os cadastros positivos não serão vendidos em CDs, na Rua 25 de março, em São Paulo, como as nossas declarações de Imposto de Renda?”.

Até o Estadão de domingo em seu editorial vê que a vantagem será apenas do gestor das listas. Poderá trabalhar com a segmentação de mercado, que irá informar os diferentes perfis de consumidor, gerando um banco de dados sofisticado e devastador como privacidade para os participantes na lista.
Estamos caminhando para uma dura realidade, em que o cidadão comum ficará cada vez mais exposto e imposto, enquanto os blindados pelo poder político e/ou econômico, menos sujeito a prestar contas, e, portanto, acima do muro.

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