quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Sinal de alerta na China

Sinais inquietantes vêm da China. Em outubro, as exportações chinesas tiveram a menor alta em quase dois anos, afetadas pela desaceleração nos EUA e pela crise na União Europeia. Indústrias chinesas já falam em demissões e redução de produção.

Para nós, brasileiros, muitíssimo dependentes da China como compradora das nossas commodities, isso é péssima notícia.

Quando a crise bater mesmo na China, ela vai reduzir suas importações de matérias primas, e aí nós vamos sentir com força as repercussões da desaceleração mundial.

Ao mesmo tempo, há dados animadores. A última Carta Brasil-China, do Conselho Empresarial Brasil China, mapeia os investimentos chineses no Brasil neste ano.

Antes muito concentrados em indústria extrativa e recursos naturais, os investimentos chineses agora estão mais direcionados para o setor de manufatura.

Dos US$ 7,14 bilhões anunciados de janeiro ao fim de outubro, em 16 projetos, 55% vão para manufatura, e 13% para recursos naturais. Destes, 43,75% são para o setor automotivo e 12,5% para o eletroeletrônico.

Como disse o economista Antonio Barros de Castro, que morreu neste, "com a recente dinamização do mercado brasileiro de consumo, estão se multiplicando as aplicações chinesas de pequeno e médio porte na esfere de manufaturas".

Ou seja, os chineses também estão tentando fazer "hedge" (proteção). Testemunhando o declínio dos mercados consumidores da Europa e EUA, tradicionalmente seus maiores alvos, eles buscam se posicionar no Brasil.

Seria bom o Brasil também estar fazendo seu "hedge", procurando não depender tanto da venda de matérias-primas para a China e explorar mercados para suas manufaturas.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Opinião Econômica - 2011, o ano-década

Nizan Guanaes

Folhapress/Divulgação/JC
Nizan Guanaes é publicitário e presidente do Grupo ABC
Nizan Guanaes é publicitário e presidente do Grupo ABC

Este foi o ano depois do ano em que o PIB cresceu 7,5%. Foi, não, é. Porque, apesar de toda a água que já passou debaixo da ponte, o ano ainda não acabou. Aquela sensação comum, já novembro, de que o ano passou rápido demais, veio neste ano acompanhada de uma sensação oposta, a de que o ano demora a acabar, cada dia cheio de acontecimentos, cada semana valendo um mês, cada mês, um ano: este ano valeu por uma década.

É um cansaço satisfeito, guerreiro, de correr atrás dos sonhos que antes eram sonhos e agora são sonhos possíveis, próximos. Avançamos sob o impacto de dois aceleradores: o econômico, já que crescemos de forma robusta e sustentável, e o da tecnologia. Nossos negócios prosperam impulsionados por um salto tecnológico que transformou tudo em comunicação instantânea. E comunicação é tudo.

Fechamos vendas, contratos e projetos com rapidez cada vez maior. Temos capital, temos mercado, temos confiança e temos a facilidade bestial de comunicação, que, no fundo, é a maior das revoluções, a marca do nosso tempo. Nosso fio condutor está plugado nas duas pontas em tomadas poderosas: a do mercado interno, finalmente do tamanho do Brasil, e a do mercado externo, que, mesmo em crise, segue investindo cada vez mais recursos em nossa economia.

A dinâmica local e a dinâmica global nos favorecem. O Brasil virou referência de desenvolvimento num mundo rico em crise que olha para a China e tem medo, que olha para a Índia e não entende, mas que olha para o Brasil e sorri. Somos um gigante fácil de falar e de compreender.

O mundo redescobriu o Brasil, com um apetite tremendo, não só por nossos produtos manufaturados e commodities, mas também por nossa cultura, nossa inteligência particular, nossa brasilidade. A revista ditadora de modas globais Wallpaper escolheu como "casa do ano" um projeto de Isay Weinfeld, que é do Brasil. A "cidade do ano" é o Rio de Janeiro. O Brasil já é um líder global. Agora, os líderes do Brasil nas suas respectivas áreas têm de ir além das nossas fronteiras porque o Brasil já foi. Há uma expectativa enorme do mundo em relação a nós. Há um interesse enorme, que precisa ser saciado.

Não podemos mais virar avestruz, enfiar a cabeça dentro da terra e ficar protegido na zona de conforto. A participação brasileira no Fórum Econômico Mundial em Davos, no começo do ano que vem, deve ser muito maior do que em edições anteriores. Cansei de ir a fóruns internacionais e ver tropas de indianos, de chineses e de outros emergidos e emergentes fazendo seu show enquanto o Brasil, muito mais sexy, mal dava as caras.

Estamos acordando para oportunidades novas: turismo e cultura. São áreas nas quais o Brasil pode se firmar como potência. Para vender a indústria brasileira é preciso firmar a cultura, a arquitetura e o design do Brasil. São eles que darão cara ao Made in Brazil.

Claro que o Brasil tem todos os problemas que conhecemos, como a carga tributária, os perigos da desindustrialização. Mas não podemos ficar só nessa pauta. Precisamos também entrar na pauta boa, da produtividade, da inovação, da construção de marca.

Não acredito que o Brasil possa competir no mundo com os produtos baratos. O Brasil vai conseguir competir com os produtos melhores. Não acredito que o biquíni brasileiro possa ser vendido por preço. Ele vai ser vendido por charme, por "appeal", por marketing.

É natural que a indústria lute por incentivos. Mas a pauta não pode se resumir a isso.

Vender uma cadeira brasileira não é fácil, mas se ela for dos irmãos Campana é muito mais fácil. Isso é ser global, é ter um pensamento global. É uma mudança, grande, que vai dar trabalho e já está em curso.
Temos de transcender. A vida é uma pista de avião. Se um marciano olhar a pista, não vai entender: um negócio que liga nada a lugar nenhum. Ela só faz sentido se você voar.

O Brasil levantou voo e vai veloz. Este ano valeu por uma década, uma década vencida. E 2012 já vem aí. Feliz outra década para você!

Publicitário e presidente do Grupo ABC