sábado, 27 de agosto de 2011

Fogo inimigo

Mário Negromonte é a bola da vez. Na limpeza ética que dona Dilma Rousseff (PT) foi levada a fazer na sua equipe ministerial, o próximo a ser defenestrado deve ser o ministro das Cidades, do PP baiano. Negromonte assumiu a pasta sem legitimidade. Era um deputado federal que, apesar de ter ocupado a liderança de sua bancada, nunca despontou como um líder partidário. Tanto é que parte desta bancada se indispôs com o ministro e quer a sua cabeça. Chamada a opinar sobre o caso, a ministra Ideli Salvatti (PT), das Relações Institucionais, tratou de sufocar a rebelião: “O governo não vai aceitar que disputas internas nos partidos aliados interfiram na manutenção dos ministros”. Agora é tarde, ministra, Inês é morta. O que a ministra não sabe é que o “fogo inimigo” está disparando mísseis capazes de destruir a biografia de Negromonte. Municiado por gente do próprio PP, o jornal O Estado de S.Paulo, na sua edição de quarta-feira, traz uma acusação que deixou Negromonte irritadíssimo. Diz o jornal que o ministro das Cidades usou verba da Câmara, quando era deputado federal, para pagar empresa contratada para prestar serviço durante a campanha eleitoral de 2010. “Tudo legal, moral e constitucional. Tudo permitido. Não tem nada errado. Se não, eu não estaria aqui”, disse o ministro, com cara de paisagem.

CONTROLE
Há controvérsias. Ele ainda está no ministério porque as acusações que pesam sobre ele - e não são poucas - ainda não foram apuradas pelos órgãos de controle: o Tribunal de Contas da União e a Controladoria-Geral da União. Aí, só Deus sabe.

Palestra

José Fogaça, ex-prefeito e presidente da Fundação André Forster, foi à posse do ministro Mendes Ribeiro (PMDB), em Brasília, e trouxe a confirmação do nome do próximo palestrante do “Prato do Dia”, evento realizado sob a chancela do PMDB: será o próprio ministro da Agricultura. O “ágape” será realizado no próximo dia 1 de setembro. É esperado público de Estádio Olímpico.

Da liturgia do cargo

Na vida, todos aqueles que assumem cargos importantes na sociedade devem respeitar a liturgia do cargo. É assim na política, na economia, na cultura e no esporte. No esporte, na noite de quarta-feira, o capitão do Internacional - o zagueiro Bolívar - chutou para o alto a liturgia do cargo. Recebida a taça de campeão da Recopa, Bolívar levantou o troféu e correu em direção às torcidas organizadas. E o resto da torcida, bulhufas! Deselegante...

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Empresas com sócios laranjas

Esquema usava empresas com sócios laranjas

Dívida tributária era assumida por empresas de fachada e sem patrimônio, o que impedia a cobrança pela União e por Estados

Para cometer as fraudes apuradas pela Polícia e Receita Federais, a quadrilha usou vários laranjas para montar dezenas de empresas, a maioria com os mesmos nomes nos contratos sociais, os mesmos contadores e, em vários casos, até endereços iguais. Foi o que revelou a investigação que resultou ontem na Operação Alquimia, que teve origem na autuação de apenas uma empresa em Juiz de Fora (MG), ainda na década de 90.

Segundo o delegado federal Marcelo Freitas, em 2002 foi instaurado inquérito para investigar essa empresa, cujo nome não foi revelado, mas foi um dos alvos de mandado de busca e apreensão na operação de ontem. Durante a investigação, policiais e auditores descobriram que o esquema era bem maior e envolvia várias companhias, a maioria em nome de laranjas.

Freitas explica que, para fraudar o Fisco, essas empresas laranjas compravam produtos que, na verdade, eram de interesse das empresas do grupo que opera realmente no mercado. Como a dupla tributação é vedada pela Constituição, as empresas de fachada assumiam os tributos da aquisição dos produtos, inclusive pelas importações. Quando eram autuadas, elas fechavam as portas, transferiam o patrimônio para outras companhias do grupo e assumiam sozinhas a dívida tributária. As investigações mostraram que uma das empresas chegou a "vender" uma frota de carretas para outra por R$ 1.

"A consequência é que a União ou os Estados não tinham como reaver o patrimônio efetivamente sonegado", ressaltou Freitas. Além disso, parte do patrimônio das empresas e dos envolvidos na fraude, segundo o delegado, era direcionado a companhias com sede no exterior.

Ilha. O presidente da Sasil Industrial e Comercial de Petroquímicos, Paulo Sérgio Costa Pinto Cavalcanti, não foi localizado. A empresa, fundada em 1973, tem filiais em 12 Estados e é distribuidora oficial de produtos da Braskem. Segundo familiares - entre eles um irmão, Thiago, que foi ouvido pela Polícia Federal e liberado em seguida -, ele estaria no exterior. A mesma explicação foi dada por familiares do diretor comercial Fernando Caribé Filho, também citado na investigação.

Cavalcanti seria o proprietário de uma ilha de 20 mil metros quadrados avaliada em R$ 15 milhões (apenas o terreno), confiscada pela Receita no fim da manhã. Nem a Polícia Federal nem a Receita, porém, confirmam oficialmente a informação.

Na ilha, ricamente decorada e cheia de itens de lazer, os agentes apreenderam cofres com barras de ouro e prata, jet-skis, barcos, lanchas, triciclos e duas armas - um fuzil e uma pistola. / COLABORARAM TIAGO DÉCIMO, EVANDRO FADEL e ANGELA LACERDA

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Cupertino divulga imagem da sede "espaçonave" da Apple

A proposta da Apple para seu Campus 2 incluí um escritório, um prédio de pesquisa e desenvolvimento que, no total, terão 260 mil m² segundo informações do site da cidade e do TechCrunch. O projeto prevê um auditório de mil assentos, um centro de fitness e 27 mil m² de área de pesquisa, usina de energia e estacionamento subterrâneo.

Steve Jobs participou de audiência da cidade de Cupertino para falar do negócio
Steve Jobs participou de audiência da cidade de Cupertino para falar do negócio

Cupertino diz que eles ainda têm de analisar o impacto ambiental do projeto e ter um pouco mais audiências públicas antes que ele seja realmente aprovado. O plano da Apple é a inovar no próximo ano e ter a nova sede em 2015. De acordo com cálculos do TechCrunch, ela vai abrigar mais de 12 mil funcionários no seu prédio enorme.


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O Brasil ficou muito caro

Por todo lugar onde passo, ouço histórias de indústrias brasileiras que perdem mercado para concorrentes chineses. Trata-se de uma dupla perda. De um lado, há companhias locais que não resistem à entrada dos produtos importados. Na outra ponta - e talvez seja o caso mais dramático -, empresas exportadoras são deslocadas pelos chineses de mercados na América Latina, nos Estados Unidos e na Europa.

São situações bem diferentes, a exigir respostas diferentes. No caso da concorrência dos importados, é até mais fácil. No limite, e sem discutir, por ora, o mérito dessa política, o governo brasileiro pode impor severas restrições à importação, combinando-as com medidas de favorecimento ao produto nacional. Como, aliás, já começa a fazer.

Mas como fazer para equilibrar a concorrência com os chineses no mercado de ônibus urbanos no Peru? Pode-se até conseguir alguma coisa por meio da diplomacia - Hugo Chávez, por exemplo, a um dado momento, deu preferência a produtos e serviços brasileiros, como na construção de obras públicas. Mas está claro que isso é episódico. Governos estrangeiros, em regra, não vão conceder proteção às mercadorias brasileiras.

Que fazer? Executivos envolvidos nessas histórias têm suas explicações e propostas.

O real valorizado e o yuan, moeda chinesa, desvalorizado são, claro, parte importante do problema. Mas tenho ouvido cada vez mais outras interpretações, que colocam a questão da competitividade geral das duas economias.

Os salários chineses, por exemplo. Já não são baixos, pelo menos não nos setores mais avançados, como eletrônicos, informática e tecnologia da comunicação - contam executivos que lidam com essa concorrência. Dizem que os salários têm subido de maneira expressiva nos últimos anos e, mesmo assim, os produtos deles preservam preços competitivos no mundo todo.

Mas os impostos sobre a folha de salários fazem muita diferença. Ou seja, em diversos setores econômicos, o dinheiro que o trabalhador brasileiro leva para casa não é mais do que o obtido pelo chinês. A diferença efetiva está no imposto cobrado sobre a folha de salários: aqui, algo como 35%; lá, quase nada.

Na verdade, o peso dos impostos brasileiros fica cada vez mais evidente. Ouço frequentes relatos de executivos brasileiros que têm na ponta da língua a sequência infinita de impostos, taxas e contribuições que pagam desde o início da produção até colocar a mercadoria no navio.

Todo mundo sabe disso, a começar pelo governo. Tanto que todas as políticas industriais incluem como peça essencial a desoneração de impostos para setores e empresas. Mas não funciona, porque só podem ser beneficiados alguns poucos escolhidos, uma vez que o governo continua precisando de arrecadação para financiar gastos crescentes. Este ou aquele setor ganha uma competitividade extra, e dependente das autoridades de plantão, mas o geral da economia continua pagando caro.

O outro problema cada vez mais evidente é o custo de capital - a taxa de juros.

A empresa brasileira se financia a juros muito, mas muito maiores que a chinesa. De novo, a política industrial concede financiamentos a juros baixinhos via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mas poucos têm acesso a esse dinheiro barato. Quer dizer, barato para o tomador, mas caro para o governo, que o subsidia.

Acrescente o custo da infraestrutura - a gente não faz um aeroporto novo há décadas, os chineses fizeram uma rede - e se tem a história toda.

Nada disso é novo. O que me parece novo é o aparecimento frequente desse tema na bronca dos executivos. Antes, quase só se reclamava da taxa de câmbio. Hoje se fala mais do custo Brasil, antes do câmbio.

Essa é a abordagem correta. Claro que um real bem desvalorizado - a R$ 3 por dólar, digamos - tornaria mais competitivos os produtos brasileiros lá fora. Mas provocaria uma forte inflação local, ao encarecer os importados e os produtos locais comercializáveis internacionalmente. Seria um novo tipo de custo Brasil.

Por outro lado, a proteção ao produto brasileiro no mercado brasileiro também vai encarecer o preço, sem representar ajuda para a exportação.

Eis o ponto: produzir no Brasil ficou muito caro - pelos impostos e juros e pelo ambiente de negócios (custos burocráticos, de licenciamento, etc.) - e não há mais real desvalorizado que resolva.

Bobeamos nisso. Há anos que a carga tributária aumenta todos os anos - e isso tem passado quase sem oposição. Não digo que devemos importar os republicanos americanos, mas vamos reparar: a gente paga mais imposto que os americanos.

Há anos pagamos juros elevadíssimos e parece que está tudo bem. Até acreditamos quando nos dizem que sai em seis vezes no cartão sem juros. Ora, pessoal, essa autoenganação está passando do limite.

O que atrapalha o Brasil, o que impede o crescimento mais rápido, o que nos derrota na concorrência com os chineses é o governo - que arrecada demais, gasta demais, e mal, e ainda por cima deve muito, toma muito dinheiro emprestado, forçando os juros para a Lua.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Câmbio atrelado


Uma das moedas que mais se fortaleceram em relação ao dólar e ao euro é o franco suíço. Apenas em agosto, saltou 3,1%, e ao longo deste ano, 18,5%.

Apesar das fortes reclamações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, o real não foi tão seriamente atingido na tal guerra cambial como o franco suíço. Em agosto, desvalorizou-se 4,1%, e, só em 2011, subiu 2,8% (veja o gráfico a seguir).

DolarVariacoes.jpg

Autoridades suíças se preocupam com a forte valorização do franco, que tira competitividade do produto de exportação. Já levaram o Banco Nacional da Suíça (banco central) a intervir no mercado com compra de euros, para elevar a oferta da moeda e neutralizar, em parte, a escalada das cotações. Como isso tem sido insuficiente, a proposta agora é atrelar o franco ao euro. Se for assim, o câmbio na Suíça deixará de ser flutuante, passará a ser fixo.

É o que a China faz há anos na sua política cambial. Não importa o que aconteça com o dólar, o yuan vai junto, como barquinho amarrado ao navio. É o que garante a competitividade do produto chinês de exportação. Mesmo diante da desvalorização do dólar no câmbio internacional, a produção não fica mais cara em dólares pois sua cotação não muda. Permanece em torno de 6,4 yuans por dólar.

Se essa política deu certo na China e se é o que pretende a ortodoxa Suíça, por que o Brasil não poderia fazer o mesmo?

Não basta providenciar essa amarração por decreto ou canetada. Tomada a decisão, é preciso que o banco central defina a cotação que pretende defender no mercado e, depois, comprar moeda estrangeira sempre que a cotação tender a baixar; ou vender quando tender a subir.

A China não emite moeda para fazer esse jogo por contar com uma impressionante poupança interna, cerca de 51% da renda média da população. O chinês poupa mais da metade do seu salário, deposita nos bancos e eles a recolhem ao Banco do Povo da China (banco central). Essa munição é usada para comprar os dólares que provoquem alta da cotação do yuan.

A Suíça pode, em princípio, providenciar uma cotação atrelada ao euro (euro peg), pois possui uma moeda forte. Poderá usar parte de suas sobras orçamentárias e de francos emitidos. Mas não poderá abusar das emissões porque provocariam inflação. Por isso, as autoridades afirmam que essa mudança na sua política cambial será somente temporária. O problema é que a saída ficaria muito difícil.

Com baixo nível de poupança (17% do PIB), o Banco Central do Brasil teria um estreito campo de manobra se o foco fosse garantir o atrelamento do real ao dólar. É verdade que poderia radicalizar o que já faz hoje, com sua política de ampliação de reservas (câmbio flutuante sujo): poderia emitir reais para comprar dólares excedentes e, depois, retirá-los do mercado com vendas de Títulos do Tesouro Nacional. Mas isso elevaria substancialmente a dívida bruta se o dólar se enfraquecer demais. Para evitar o problema, o governo teria de ter uma disciplina fiscal (redução de despesas públicas) muito mais firme.

O risco maior seria o jogo virar e o mercado global apostar contra o real. Isso, se houvesse uma forte saída de moeda estrangeira. Assim, para sustentar o câmbio fixo, o Banco Central teria de vender reservas. E o atual colchão de US$ 350 bilhões.

CONFIRA

Ouro11AGO.jpg

O gráfico traz o comportamento das cotações do ouro a partir de julho. Subiram 47,3% no período de 12 meses terminado nesta quinta-feira; 24,3% em 2011 (até esta quinta) e 8,7% apenas nos primeiros nove dias úteis de agosto. Mas, nesta quinta-feira, começaram a baquear: caíram 1,5%.

Tempo de férias. Cairão mais as cotações do ouro caso haja mais confiança na obtenção de uma solução para a crise dos grandes endividados da área do euro. Porém a falta de iniciativa dos dirigentes políticos, alguns deles em férias, dá pouca esperança de uma saída rápida e consistente.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

''O Brasil poderá sofrer contágio da crise pelo comércio''


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Ex-presidente do BC diz que a crise é menos grave que a de 2008 e a resposta do Brasil deve ser diferente, com maior preocupação em dar sinais de controle das contas públicas


  • Celso Junior/AE-28/12/2010

Análise da crise. 'Em 2008, tivemos uma crise de crédito; hoje, temos problemas de governos', afirma Meirelles

Henrique Meirelles

Henrique Meirelles estava no comando do Banco Central em 2008, quando a quebra do Lehman Brothers interrompeu o crédito internacional e atingiu o Brasil em cheio. Ele diz que a crise hoje é bem diferente, com mais dificuldades para recuperar o crescimento global e possibilidade de recessão nos Estados Unidos, mas o problema ainda se restringe ao endividamento dos governos.

Na sua avaliação, não há uma contaminação do sistema financeiro, embora exista uma grande preocupação com os bancos, principalmente europeus. Por isso, a principal via de contágio para o Brasil hoje é o comércio, por meio de queda dos preços das commodities e da redução de demanda por produtos brasileiros no exterior. "Não há dúvida que o canal de transmissão é comercial. Mas, como em 2008, isso pode mudar a cada 24 horas."

Presidente mais longevo do BC, ocupando o cargo entre 2003 e 2010, Meirelles, que hoje é presidente do Conselho Público Olímpico, não quis responder perguntas sobre como a autoridade monetária deve agir nesse momento. Disse apenas que "não há dúvida" que a economia mundial hoje é mais "contracionista", mas que "a grande lição de 2008" é que o BC deve reagir "a situações reais e não ao que deveria ser". A seguir trechos da entrevista ao Estado.

Quais são as diferenças entre a crise atual e a de 2008?

Em 2008, tivemos uma crise de crédito, que foi provocada por uma alavancagem excessiva das famílias, das empresas e dos bancos nos EUA. O setor privado americano e de outros países europeus diminuiu gradualmente seu endividamento, mas foi substituído pelo aumento das dívidas estatais. Esse é o ambiente desta crise. Uma preocupação dos investidores com o endividamento público e programas de austeridade com toda a sua consequência contracionista. Paralelamente, uma preocupação de que, se houver problemas maiores na economia e nos bancos, os governos não poderiam mais intervir. É uma crise que sinaliza mais dificuldades de crescimento, mas não é como em 2008 depois da quebra do Lehman Brothers. Por enquanto, é um problema dos governos. As ações dos bancos caem, porque podem ser o canal de transmissão para a economia real.

Por que o mercado está tão preocupado com os bancos?

Os bancos americanos hoje, no geral, estão melhor capitalizados do que estavam em 2008. Aprenderam bastante com a crise. Ainda existe problemas, principalmente os herdados da crise hipotecária, mas não é da mesma dimensão. Também há processos judiciais que podem ameaçar essas instituições. Algumas dessas ações são grandes e podem prejudicar a rentabilidade futura dos bancos. Isso é que causa preocupação. Já na Europa, os bancos estão expostos aos governos de países problemáticos. Evidente que o Banco Central Europeu está atento. Não há sinais de alarme, mas sem dúvida existe uma preocupação. E 2008 mostra que as coisas podem acontecer numa velocidade incrível.

O senhor acredita em um duplo mergulho, em nova recessão, da economia americana?

Existe uma preocupação dos Estados Unidos entrarem em recessão e essa é a razão da instabilidade e do nervosismo dos mercados. O desemprego americano continua alto, as empresas não estão investindo. É uma economia com uma demanda privada fraca e com possibilidades limitadas de o governo fazer um estímulo fiscal maior.

O risco de crédito da dívida da França pode efetivamente ser rebaixado?

Sim, é possível. Mas tem uma série de componentes de julgamento subjetivo das agências de rating, cuja credibilidade está em jogo depois das críticas severas em 2008. É uma possibilidade, mas o cenário base da França não é esse.

Até pouco tempo, os emergentes estavam preocupados com a inflação. Com a desaceleração global, isso mudou?

A grande lição de 2008 é que a autoridade monetária deve reagir a situações reais e não ao que deveria ser. Em 2008, foram tomadas uma série de medidas no Brasil que restauraram a atividade rapidamente. Naquela época, faltava crédito e liquidez no mercado e houve uma crise nos derivativos de câmbio. O BC atuou diretamente nisso. Hoje temos que verificar como vai se desenrolar a situação. O BC tem que identificar situações reais e atacar problemas específicos.

Mas a preocupação com a inflação mudou de patamar hoje?

Não há dúvida que a tendência da economia mundial é hoje mais contracionista. Temos um cenário diferente do que há alguns meses, quando havia questões localizadas de preços de commodities. Temos que verificar como isso vai evoluir. O BC vai avaliar a economia brasileira e tomar a decisão mais adequada.

Em 2008, o contágio da economia brasileira ocorreu via crédito. Hoje quais são as ameaças?

Hoje o primeiro movimento se dá nos preços das commodities e na demanda por produtos brasileiros no exterior, que pode arrefecer. Em segundo lugar, cai o preço dos ativos pelo aumento da aversão ao risco. As ações caíram, mas tiveram uma correção técnica ontem e hoje. É prematuro dizer como vai evoluir nos próximos dias. Não há dúvida que hoje o canal de transmissão para o Brasil é comercial. Mas, como em 2008, isso pode mudar a cada 24 horas.

Se a transmissão é via comércio, como deve agir o governo?

Temos que aguardar como os diversos setores podem ser afetados. Qualquer generalização é perigosa.

O governo brasileiro disse que vai segurar os gastos, enquanto na crise de 2008 ocorreu o contrário. A receita tem que mudar?

Os problemas são diferentes. Em 2008, globalmente, tínhamos um problema de queda de demanda, gerada pela crise no crédito e pelo desemprego. A resposta geral foi o estímulo fiscal. Hoje a preocupação é a questão fiscal. É o contrário. A reação do governo brasileiro está correta. Mas é preciso separar bem a situação do Brasil e dos EUA e da Europa. A situação fiscal brasileira é muito confortável comparada com a maioria desses países. É bom ter cuidado e ser prudente, mas o Brasil não tem um problema fiscal. Só precisa ter cuidado para não ter.

Qual é a tendência para o câmbio? A guerra cambial continua ou há risco de ataque especulativo contra o real?

Temos duas forças contraditórias. O Federal Reserve (BC dos EUA) sinalizou a permanência de taxas de juros perto de zero até 2013 e deixou a porta aberta para uma terceira rodada de injeção de recursos no mercado. Isso significa mais liquidez, maior entrada de recursos no Brasil e valorização do real. Por outro lado, o enfraquecimento da demanda mundial pode levar a queda das commodities. A tendência do preço das commodities não está clara, mas pode levar a desvalorização do real. São fenômenos com efeitos contrários e o vetor resultante não é previsível. Em 2008, o grande vetor da desvalorização do real não foi as commodities, mas o colapso das linhas de crédito internacionais, que levaram as empresas a tomar recursos no Brasil e pagar empréstimos que venciam no exterior. Também tivemos remessas de recursos de filiais para as matrizes e remessas de fundos para cobrir saques maciços lá fora. E o problema dos derivativos nas empresas exportadoras.

O endividamento em dólar das empresas aumentou e está forte a remessa de lucros para o exterior. Esse problema pode se repetir?

O que gerou aquela crise não foi uma remessa normal de dividendos. Hoje as remessas aumentam porque as empresas têm mais lucro. O endividamento no exterior também é normal e não há sinal de problemas com derivativos. Pode existir algum problema no futuro? Sim, se houver o colapso de algum grande banco internacional que leve ao congelamento do crédito. Mas esse é um cenário técnico e o fator chave é o funcionamento regular do sistema financeiro. Outro ponto importante: a desvalorização do real em 2008 durou pouco porque o BC tinha US$ 200 bilhões de reservas e atuou. Hoje, com US$ 350 bilhões, temos muito mais. A tão criticada acumulação de reservas custa caro, mas é confortadora agora.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

BOM SENSO E CRISE EXTERNA


O governo continua apostando no mercado interno para enfrentar a crise internacional, mas começou a usar um discurso menos triunfalista e mais sensato - pelo menos de vez em quando. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu uma política de solidez fiscal para o País atravessar com segurança a nova turbulência. Não é hora, segundo ele, de aumentos salariais para o setor público. Todos os Poderes devem colaborar, acrescentou, em resposta a uma pergunta sobre o novo ajuste pretendido pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Mas o próprio Executivo terá dificuldade para resistir às pressões do seu funcionalismo. Além disso, o ministro Mantega admitiu, há meses, a possibilidade de um ajuste do salário mínimo na faixa de 13% a 14%, com evidente impacto nas contas da Previdência. A proposta orçamentária em preparação no Ministério do Planejamento dará uma ideia mais clara, nas próximas semanas, da efetiva disposição do governo de limitar a expansão do custeio. No Brasil, o custeio é em boa parte um peso morto, por causa da baixa qualidade e da ineficiência dos serviços federais. E parte do investimento é escandaloso desperdício, gerado pelo conúbio da incompetência administrativa com a bandalheira patrocinada pelas coalizões de governo. A faxina em curso é uma inesperada e promissora novidade.

Se o governo executar com alguma decência os investimentos planejados até agora - ou uma parcela maior que a executada nos últimos anos -, já dará uma boa ajuda à expansão da atividade e à sustentação do emprego. Eficiência e parcimônia, qualidades pouco visíveis na administração central, abrirão o espaço necessário a uma política monetária mais branda e mais adequada a um cenário internacional de estagnação. Se a nova relação amigável entre Fazenda e Banco Central (BC) funcionar também nessa direção, o País ganhará. Além disso, o governo terá melhores condições para recorrer a uma política fiscal compensatória, em caso de necessidade, se tiver como base um orçamento menos inchado que os tradicionais.

Seja como for, a ideia de um crescimento sustentado apenas pelo mercado interno - e principalmente pelo consumo - é um tanto ilusória. É preciso levar em conta a evolução das contas externas. A expansão do consumo foi possibilitada, nos últimos anos, por um rápido crescimento da importação de bens finais e bens intermediários. Durante algum tempo, o gasto com produtos importados aumentou mais velozmente que a receita obtida com a exportação. Neste ano, a receita voltou a avançar mais depressa, mas isso se deve em boa parte, se não exclusivamente, à valorização dos produtos básicos. De janeiro a julho, o preço do café em grão, por exemplo, foi em média 64,8% maior que o de um ano antes. O da soja ficou 31,7% acima do registrado nos mesmos meses de 2010. Os do minério de ferro se mantiveram 23,3% superiores aos de janeiro a julho do ano passado. As cotações da maior parte dos básicos exportados pelo Brasil foram muito favoráveis.

Preços favoráveis deverão manter-se nos próximos dez anos, segundo a maior parte das projeções, e isso resultará em grande parte do crescimento econômico da China e de outros emergentes. Mas é muito mais fácil e mais seguro, neste momento, fazer estimativas para longos períodos. A curto prazo, os preços das commodities poderão ser afetados por uma nova desaceleração da economia global. O efeito será mais grave se a China vier a crescer muito mais lentamente, mas esse risco, por enquanto, parece altamente improvável. De toda forma, é pouco aconselhável fazer uma grande aposta baseada na firmeza dos preços das commodities.

As condições do comércio dependerão também da política monetária americana. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) informou a disposição de manter os juros básicos entre zero e 0,25% até meados de 2013, pelo menos.

Não se anunciou uma terceira etapa de "afrouxamento quantitativo", mas permanece a hipótese de novas compras de títulos federais em circulação no mercado. Se o Fed continuar emitindo moeda generosamente, para compensar o aperto da política fiscal, o dólar poderá novamente cair. Em contrapartida, as commodities poderão novamente valorizar-se. Qual será o efeito mais indesejável para o Brasil?

A presidente Dilma Rousseff tem adotado o discurso da prudência, sempre rejeitando a ideia de uma política recessiva. Mas essa hipótese é meramente retórica. É falsa, no caso brasileiro, a escolha entre a recessão e o expansionismo irresponsável. É possível manter o crescimento, mesmo em face de condições externas desfavoráveis, sem gerar pressões inflacionárias ou comprometer o balanço de pagamentos. A receita deve incluir muito bom senso e, se possível, nenhum populismo.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

EIKE BATISTA, ESTOU EM UMA ILHA


Empresário afirma que suas empresas, apesar de estarem entre as que mais perderam na Bolsa, estão em boa situação

Duas empresas do grupo EBX, de Eike Batista, ficaram entre as maiores quedas da Bolsa: a petroleira OGX e a empresa de logística LLX. Eike não perde o bom humor, embora admita a preocupação. Em entrevista à Agência Estado, disse estar aliviado por não precisar fazer novas captações e por acumular caixa próprio de US$ 10 bilhões, metade dele na OGX. O executivo lamenta apenas não estar ainda gerando lucro, condição imposta pela CVM para as empresas realizarem operações de recompra de ações. "Seria um sonho" recomprar agora ações da OGX, diz ele, que reconhece estar perdendo dinheiro, "mas só no papel". E prevê uma saída relativamente rápida da crise. "O mundo real está bombando", afirma. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Suas empresas estão entre as maiores baixas da Bovespa...

O mundo está derretendo, ninguém acredita mais em ninguém. Nossas empresas tiveram disciplina financeira e acumulamos US$10 bilhões em caixa. Só a OGX tem US$ 5 bilhões. Todos os nossos projetos começam a produzir no quarto trimestre. A OGX começa a produzir petróleo no quarto trimestre, a US$ 18. Os fundamentos do grupo são: recursos financeiros em caixa e baixo custo de produção. É assim para todas as nossas companhias.

Mas, não é preocupante a despencada da Bolsa?

Estou vendo minhas ações caírem, claro, como todo mundo, porque no fundo depende muito de quem te comprou. Tem fundos de hedge que simplesmente têm de se desfazer dessas ações, não podem segurar. E desencadeiam um monte de vendas automáticas. Continuo com 60% de minhas empresas e temos muito caixa. Pena que, pelas regras da CVM, você só pode recomprar ações de volta depois que gera lucro. Então, estou impedido de fazer isso.

Se não fosse essa limitação, seria o momento de recomprar?

Seria um desses momentos únicos, em que você começa a fazer uma compra durante 60 dias e a cada dia compra um pouquinho. Acho que, nos próximos 60, 90 dias, o mundo vai começar a distinguir e separar o joio do trigo. E o Brasil tem o grande diferencial de ter a demanda interna como 90% de nosso PIB. O que vai se mostrar claramente é que a Europa não cresce e está aí para pagar contas, literalmente como o Brasil viveu de 1985 a 1997, 2000. O que vai ficar muito claro é que, talvez, a América do Sul inteira, mais a Índia, a China e toda a Ásia estão crescendo a taxas muito superiores às da Europa e Estados Unidos, e isso vai se diferenciar mais à frente. Porque hoje está meio na base do "liquida tudo"; as commodities vão cair, vai tudo cair. As pessoas não entendem que o mundo vai continuar comendo. A área de "soft commodities" (agrícolas) vai sofrer pouco. O Brasil produz commodities a preços muito baixos.

O senhor conta com isso para reverter perdas?

Se eu produzo petróleo a US$ 18, não vou me importar muito se o petróleo cai de US$ 120 para US$ 100 (o barril), ou mesmo para US$ 80. A Vale produz o minério dela a US$ 25 a tonelada e vende por US$ 170; pode cair para US$ 150, US$ 140, esse ajuste novo é que é difícil de prever. Mas eu vejo o Brasil continuando a crescer, a China continuando a crescer. Se perder alguma coisa, será marginal

O grupo vai conseguir passar pela crise com o caixa que têm?

Não só isso, como também começo a gerar caixa próprio, a custos baixos. E também não preciso mais captar nada, já captei tudo. Quem teve disciplina financeira e não se alavancou está menos preocupado. Não me alavanquei, pelo contrário, estou megacapitalizado. Essa é a grande sorte.

De qualquer forma, essa queda geral da Bovespa não é preocupante?

Quando entra irracionalidade, a gente sofre. A OGX sofre porque está em plena transição. As empresas que geram caixa hoje caem menos. Mas, outubro/novembro é amanhã para mim. Vou gerar caixa a preços baixos. Apesar desse mar revolto, estou numa ilha.

E com relação à sua posição como investidor?

Continuo a ter 60% das minhas empresas. Perco dinheiro só no papel. Se a minha OGX, no ano que vem, gerar US$ 1 bilhão de caixa, 60% desse bilhão é meu. Não vou vender e não preciso vender, até porque não me alavanquei nada. Ruim está para aqueles que precisam levantar dinheiro hoje, vender alguma coisa ou que tenham custos de produção muito altos.

O que pode ocorrer para os investimentos se a Fitch corroborar o rebaixamento dos títulos americanos?

Eu não sei quem tem de aparecer no mercado e acalmar o mundo. A grande diferença entre 2008 e agora é que, em 2008, não tinha carta de crédito nem para uma empresa como a Petrobrás! Setenta por cento do comércio mundial parou. Hoje, o mundo real está bombando. Só tem avião cheio! Óbvio que o problema das dívidas soberanas é muito grande. Mas a possibilidade de um calote americano é zero.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Venda do McDonald's cresce 5,1% em julho


As vendas globais da rede de fast-food McDonald's tiveram alta de 5,1% em julho (considerando-se o mesmo número de lojas), com crescimento em todas as regiões, conforme divulgou há pouco a empresa. O resultado está em linha com o aumento de 4% a 5% previsto pela companhia para o mês passado.

Em junho, a empresa registrou crescimento de vendas de 7,7%. O cardápio variado e promoções de preço teriam ajudado a empresa a alcançar o percentual de alta. Mas os preços altos das commodities continuam pressionando as margens da rede de lanchonetes. Por isso, a empresa tem anunciado reajustes em seus preços, como fez na China em julho.

A empresa também divulgou que as vendas tiveram alta de 4,1% nos Estados Unidos. Na Europa, o aumento foi de 5,3%. Na região Ásia/Pacífico, Oriente Médio e África, a alta foi de 4%. A rede não divulgou percentuais para outras regiões

domingo, 7 de agosto de 2011

* CAMARGO CORRÊA *


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Camargo Corrêa fará investimento de US$ 400 mi em cimento na Argentina

Com novos aportes, grupo consolida sua condição de maior produtor argentino de cimento, com mais de 50% do mercado local



O grupo Camargo Corrêa anunciou ontem investimentos de US$ 400 milhões em sua subsidiária argentina Loma Negra entre 2012 e 21014. O anúncio foi realizado durante uma reunião dos executivos do grupo com a presidente argentina Cristina Kirchner na residência oficial de Olivos.

Durante o encontro, do qual também participou a ministra da Economia, Débora Giorgi, entre outras autoridades, os representantes da Camargo Corrêa informaram que, do total, US$ 250 milhões serão destinados a uma fábrica de cimento na região oeste da Argentina. Outros US$ 30 milhões serão aplicados ao desenvolvimento de combustíveis alternativos, enquanto US$ 120 milhões irão para a ampliação da capacidade de produção e melhorias em assuntos ambientais.

A Camargo Corrêa, por meio da Loma Negra, possui nove fábricas na Argentina. Destas, seis estão na província de Buenos Aires. A província, a maior do país, é responsável por 37% do PIB argentino, além de concentrar 40% da população nacional.

O grupo brasileiro desembarcou na Argentina em 2005, quando comprou a própria Loma Negra, ícone do setor de cimento no país. A companhia, vendida pela empresária Amália Fortabat, ostentava 50% do mercado de cimento argentino.

Em 2008, a presidente Cristina autorizou a São Paulo Alpargatas, uma subsidiária da Camargo, a adquirir a Alpargatas, fundada em 1885, que era o símbolo por excelência do setor têxtil argentino. O grupo brasileiro também atua na área têxtil argentina por meio da Santista - em conjunto com a Coteminas - na empresa Grafa (uma das maiores fábricas argentinas de toalhas).

Desde que desembarcou no país, há seis anos, a Camargo Correa investiu em média US$ 58 milhões por ano na Argentina. Com o novo plano de investimentos, a empresa injetará entre 2012 e 2014 uma média de US$ 134 anuais.

Estado brasileiro. Em 1995, o empresário Franco Macri - na época, ícone do capitalismo argentino - foi duramente criticado por afirmar que a Argentina estava a ponto de se tornar "o 27.º Estado do Brasil", em alusão ao crescente poderio econômico brasileiro e à simultânea decadência argentina. Na ocasião Macri foi acusado de "alarmista". Atualmente, sua frase é encarada como "profética".

Desde a crise de 2001-2002, a pior da história argentina - quando os capitais europeus e americanos desconfiavam do país -, as empresas brasileiras decidiram correr o risco e investiram intensamente na Argentina.

Atualmente, as empresas brasileiras controlam um terço do mercado de combustíveis, mais da metade da produção de cimento, superam os 60% da produção de aço e dominam 70% da fabricação do denim. De quebra, o capital brasileiro é responsável por dois terços das cervejas consumidas pelos argentinos, além de uma presença crescente nos frigoríficos instalados no país.

Desde o início da década passada, a Ambev adquiriu a centenária cervejeira Quilmes, a Petrobrás passou a controlar a energética Pérez Companc, o JBS-Friboi ficou com o frigorífico Swift, enquanto que a Marfrig tornou-se o principal acionista da Quickfood, entre outros negócios

sábado, 6 de agosto de 2011

* U S A *

Pela primeira vez em 70 anos, a agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) rebaixou a nota de crédito soberano de longo prazo dos Estados Unidos. A nota foi rebaixada de "AAA" para "AA+", com perspectiva negativa. O rating de curto prazo foi mantido em "A-1".

"O rebaixamento reflete nossa opinião de que o plano de consolidação orçamentário que o Congresso e a administração aprovaram recentemente em fica aquém do que, a nosso ver, seria necessário para estabilizar a dinâmica da dívida do governo a médio prazo", diz o comunicado da agência.

Segundo a S&P, a eficácia, estabilidade e previsibilidade das políticas americanas e das instituições políticas se enfraqueceram em um momento de desafios fiscal e econômico em curso a um grau não imaginado quando a S&P atribuiu uma perspectiva negativa para o rating do país no dia 18 de abril deste ano.

Segundo o "The Wall Street Journal", no início da tarde de sexta-feira, a agência já tinha notificado o governo americano de que estava planejando rebaixar o rating de crédito e apresentou seu relatório à Casa Branca. Porém, após duas horas de análise, funcionários do Tesouro descobriram que os analistas da S&P erraram nos cálculos das projeções de déficit futuro em quase US$ 2 trilhões.

Os analistas da S&P reconheceram o erro, mas disseram que isso não afetaria sua avaliação de rating.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Restaurante Copacabana alia tradição e inovação aos 72 anos

Sanzi diz que estratégia foi de qualificação, com pratos contemporâneos
Sanzi diz que estratégia foi de qualificação, com pratos contemporâneos

O Restaurante Copacabana, um dos mais tradicionais estabelecimentos voltados à gastronomia italiana, completará no dia 18 de outubro 72 anos de atividades em Porto Alegre. Administrado atualmente pelos irmãos Marcelo Castilhos Sanzi e Melissa Sanzi Giacobo, netos de Biagio Sanzi, italiano imigrante proveniente de Morano Calabro, representa hoje a terceira geração da família empreendedora à frente dos negócios.

O sucesso do Copacabana, cenário de importantes acontecimentos sociais, políticos e culturais do Rio Grande do Sul e também destacado por receber ao longo dos anos ilustres clientes, está no trabalho cuidadoso de seus administradores. A gastronomia impecável, o constante aprimoramento no atendimento aos clientes e ambientes aconchegantes com capacidade para até 380 pessoas fazem do Copacabana um estabelecimento especial.

O ponto fundamental é o constante aprimoramento no atendimento; numa gastronomia que preserva o sabor tradicional da comida italiana; e nos agradáveis ambientes que compõem o Copacabana. Um deles remete à ideia de uma cantina italiana, tendo as paredes repletas de fotografias de ilustres visitantes, além de pinturas que retratam momentos da vida dos antigos imigrantes. Paralelo a este ambiente “tradicional”, os clientes também podem frequentar os demais salões de eventos existentes no local, bem como alugá-los em ocasiões especiais.

Sanzi informa que o Copacabana, através de um esforço conjunto com órgãos públicos, estaduais e municipais, recebe além dos porto-alegrenses, turistas que visitam o Rio Grande do Sul. De acordo com o empresário, o restaurante teve de se adaptar para atender as necessidades de um público cada vez mais exigente. Deste modo, adotou métodos para garantir a qualidade através do constante aprimoramento dos garçons e demais funcionários; passou a diversificar o mix de produtos oferecidos; adotou também alguns pratos um pouco mais contemporâneos, mas sem perder a sua tradição.

“O Copacabana mantém o sabor de seus pratos tradicionais, preservando e satisfazendo os seus clientes ao longo das gerações”, explica Sanzi. O jovem empresário também destaca o lançamento de pratos a exemplo do Talharim à Morano Calabro, apresentando um toque delicado do requeijão com o gosto marcante da berinjela; compondo o cardápio ao lado de pratos mais tradicionais como a saborosa vitela assada. A oferta de antepastos também será ampliada. Hoje, o estabelecimento oferece refeições à la carte e almoço-executivo. Ele acrescenta que um dos pratos mais pedidos é o filé à parmegiana com molho especial, que leva em média sete horas para ficar pronto.

Os consumidores também encontram no local uma adega climatizada e uma oferta de 212 rótulos, compondo uma destacada carta de vinhos nacionais e importados, que é renovada duas vezes por ano. O estabelecimento foi fundado pela família Vitola em 1939. Em 1953, Sanzi Biagio entrou na sociedade com o irmão Luiz, dando uma nova formatação para o Copacabana e o transformando num sucesso de empreendimento.

Informações adicionais: o Restaurante Copacabana está localizado na Praça Garibaldi, número 2, em Porto Alegre Tel.: (51) 3221.4616
E-mail: copacabana@restcopacabana.com.br. Site:
www.restaurantecopacabana.com.br








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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

São Paulo está a cara de Kassab

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Kassab é a cara de Maluf versão 2011.

A um ano das eleições, a cidade de São Paulo está com 140 mil crianças sem creche, uma das promessas de Kassab quando se reelegeu. E o grande patrocinador de Kassab foi o setor imobiliário.
Nada mais natural, portanto, que tivesse partido de atividade tão cara ao alcaide paulistano a sugestão de uma negociação de creches em troca de áreas públicas. O Secovi, sindicato da área de construção e comercialização de imóveis, cujos milhões ajudaram Kassab a se eleger, sugeriu que as empresas da área recebessem propriedades públicas por terceirização, alienação ou venda em contra partida à construção de creches.

É uma estratégia eleitoreira, pois não haverá tempo nem vontade para cumprir a promessa, mas os primeiros sinais serão emitidos e, talvez, suficientes para os debates políticos onde serão feitas as cobranças.

Enquanto Kassab não se constrange de assumir a corretagem da cidade, entregando a Pompeia e a Chucri Zaidan à especulação imobiliária, Alckmin se exime da promessa do verde nas obras da Marginal Tietê, tão exaltadas por Serra.

Aliás, Kassab, Alckmin e Serra, perderam a grande chance de honrar o espírito empreendedor e privativista da história da terra bandeirante onde nasceram e estão tendo que assimilar a secundária posição nesta COPA 14.

Deveriam protagonizá-la, honrando a palavra de manter o foco na iniciativa privada, ao invés de apresentarem ridículas fórmulas provando que isenção e obras provisórias com dinheiro público não são gastos do governo.

Ficaram sem o exemplo à nação, mas não ficaram com o Sorteio nem com a Copa das Confederações, não ficarão com o Centro de Imprensa e quem sabe terão que se contentar em dar vultoso dinheiro público para ficar com a partida de Abertura. Isto não é São Paulo.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Mundo novo, mundo louco

Os ferozes cobradores de ontem, senhores do FMI e do Clube de Paris, são hoje os candidatos a caloteiros.

Quem enfrentou os anos terríveis da década de 1980 e parte da de 1990, quando os países latino-americanos foram achincalhados e marginalizados por causa da incapacidade de pagar suas dívidas, certamente não esperava viver para ver o que se passa hoje na economia mundial.

Os ferozes cobradores de ontem, senhores do FMI e do Clube de Paris, são os candidatos a caloteiros de hoje. Nas últimas semanas, a União Europeia concluiu um pacote de € 159 bilhões para socorrer a Grécia e evitar que o país entrasse em default. Talvez a UE devesse ter negociado um plano mais amplo, para atender a outros países do continente que carregam enormes dívidas públicas, como Itália, Espanha, Irlanda e Portugal. Não o fez, e isso indica que talvez novas emoções venham por aí, em breve.

Do outro lado do Atlântico, a grande nação americana viveu a última semana a um passo de dar um calote nos credores de sua dívida de US$ 14 trilhões. Barack Obama lutou obstinadamente com os conservadores do Congresso para elevar o teto da já monumental dívida pública, sem o que não poderia honrar os compromissos do país.

Tal qual se fazia e ainda se faz na política brasileira, os republicanos dos EUA adotaram a tese do “quanto pior, melhor”. Deram prioridade, em suas decisões, aos dividendos eleitorais que poderão obter em 2012, sem se importar muito com uma nova recessão ou até com uma catástrofe na economia.

Ao olhar para esses fatos, é inevitável a constatação de que o mundo realmente mudou. O economista Dani Rodrik, professor de economia política internacional da Universidade Harvard, escreveu dias atrás que “talvez, pela primeira vez na história moderna, o futuro da economia mundial está na mão dos países pobres”. Referia-se aos já não tão pobres países emergentes, entre os quais Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul. Caberia a esses países puxar o crescimento global, devido à estagnação que deverá atingir o antigo Primeiro Mundo, agora sufocado pelo pesado endividamento, nos anos vindouros.

Tudo isso nos remete ao atual momento da economia brasileira. Para ajudar nesse novo papel de puxador do crescimento global, o Brasil precisa de mudanças estruturais que estimulem o desenvolvimento em áreas estratégicas e em novos setores de serviços e tecnologias, além de uma desoneração geral da produção. Sem isso, não há como ocupar posições tradicionalmente dominadas pelos ricos, das quais, aliás, eles relutarão em abrir mão.

O principal problema brasileiro do momento é o excesso de ingresso de dólares no país, com graves efeitos na taxa de câmbio e na competitividade da produção. Não dá para saber qual será o impacto real das medidas cambiais da semana passada, mas foram importantes as declarações da presidente Dilma sobre o atual momento. Ela disse, segundo relato de Fernando Rodrigues na Folha, que o governo optou por manter a economia crescendo consistentemente. “Não queremos inflação sob controle com crescimento zero.”

Dado o cenário econômico do hemisfério Norte, nada é mais sensato do que a declaração de Dilma. Seria insano, num momento como este, quando há risco de estagnação global, ceder à fúria conservadora que pretende trucidar a inflação a marteladas, sem se preocupar com a manutenção do consumo interno.

A estabilidade foi uma enorme conquista brasileira e não se pode jamais descuidar de sua manutenção. Cabe à autoridade governamental, porém, combater com igual atenção as mazelas que levam ao lento crescimento econômico, especialmente quando pouco ou nada se pode esperar em matéria de crescimento da demanda externa vinda dos antigos países ricos.

Nunca se deve esquecer a lição dos anos 1930, descrita nos manuais de economia. Depois da Grande Depressão de 1929, a economia americana vinha em forte recuperação até 1937. Foi então que forças conservadoras que John Kenneth Galbraith chamou com ironia de “homens da sensatez” começaram a promover cortes de investimentos públicos e aumentos de impostos para equilibrar o orçamento. “Houve então um novo e horrível colapso, uma retração dentro da Depressão”, escreveu Galbraith.