terça-feira, 9 de agosto de 2011

EIKE BATISTA, ESTOU EM UMA ILHA


Empresário afirma que suas empresas, apesar de estarem entre as que mais perderam na Bolsa, estão em boa situação

Duas empresas do grupo EBX, de Eike Batista, ficaram entre as maiores quedas da Bolsa: a petroleira OGX e a empresa de logística LLX. Eike não perde o bom humor, embora admita a preocupação. Em entrevista à Agência Estado, disse estar aliviado por não precisar fazer novas captações e por acumular caixa próprio de US$ 10 bilhões, metade dele na OGX. O executivo lamenta apenas não estar ainda gerando lucro, condição imposta pela CVM para as empresas realizarem operações de recompra de ações. "Seria um sonho" recomprar agora ações da OGX, diz ele, que reconhece estar perdendo dinheiro, "mas só no papel". E prevê uma saída relativamente rápida da crise. "O mundo real está bombando", afirma. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Suas empresas estão entre as maiores baixas da Bovespa...

O mundo está derretendo, ninguém acredita mais em ninguém. Nossas empresas tiveram disciplina financeira e acumulamos US$10 bilhões em caixa. Só a OGX tem US$ 5 bilhões. Todos os nossos projetos começam a produzir no quarto trimestre. A OGX começa a produzir petróleo no quarto trimestre, a US$ 18. Os fundamentos do grupo são: recursos financeiros em caixa e baixo custo de produção. É assim para todas as nossas companhias.

Mas, não é preocupante a despencada da Bolsa?

Estou vendo minhas ações caírem, claro, como todo mundo, porque no fundo depende muito de quem te comprou. Tem fundos de hedge que simplesmente têm de se desfazer dessas ações, não podem segurar. E desencadeiam um monte de vendas automáticas. Continuo com 60% de minhas empresas e temos muito caixa. Pena que, pelas regras da CVM, você só pode recomprar ações de volta depois que gera lucro. Então, estou impedido de fazer isso.

Se não fosse essa limitação, seria o momento de recomprar?

Seria um desses momentos únicos, em que você começa a fazer uma compra durante 60 dias e a cada dia compra um pouquinho. Acho que, nos próximos 60, 90 dias, o mundo vai começar a distinguir e separar o joio do trigo. E o Brasil tem o grande diferencial de ter a demanda interna como 90% de nosso PIB. O que vai se mostrar claramente é que a Europa não cresce e está aí para pagar contas, literalmente como o Brasil viveu de 1985 a 1997, 2000. O que vai ficar muito claro é que, talvez, a América do Sul inteira, mais a Índia, a China e toda a Ásia estão crescendo a taxas muito superiores às da Europa e Estados Unidos, e isso vai se diferenciar mais à frente. Porque hoje está meio na base do "liquida tudo"; as commodities vão cair, vai tudo cair. As pessoas não entendem que o mundo vai continuar comendo. A área de "soft commodities" (agrícolas) vai sofrer pouco. O Brasil produz commodities a preços muito baixos.

O senhor conta com isso para reverter perdas?

Se eu produzo petróleo a US$ 18, não vou me importar muito se o petróleo cai de US$ 120 para US$ 100 (o barril), ou mesmo para US$ 80. A Vale produz o minério dela a US$ 25 a tonelada e vende por US$ 170; pode cair para US$ 150, US$ 140, esse ajuste novo é que é difícil de prever. Mas eu vejo o Brasil continuando a crescer, a China continuando a crescer. Se perder alguma coisa, será marginal

O grupo vai conseguir passar pela crise com o caixa que têm?

Não só isso, como também começo a gerar caixa próprio, a custos baixos. E também não preciso mais captar nada, já captei tudo. Quem teve disciplina financeira e não se alavancou está menos preocupado. Não me alavanquei, pelo contrário, estou megacapitalizado. Essa é a grande sorte.

De qualquer forma, essa queda geral da Bovespa não é preocupante?

Quando entra irracionalidade, a gente sofre. A OGX sofre porque está em plena transição. As empresas que geram caixa hoje caem menos. Mas, outubro/novembro é amanhã para mim. Vou gerar caixa a preços baixos. Apesar desse mar revolto, estou numa ilha.

E com relação à sua posição como investidor?

Continuo a ter 60% das minhas empresas. Perco dinheiro só no papel. Se a minha OGX, no ano que vem, gerar US$ 1 bilhão de caixa, 60% desse bilhão é meu. Não vou vender e não preciso vender, até porque não me alavanquei nada. Ruim está para aqueles que precisam levantar dinheiro hoje, vender alguma coisa ou que tenham custos de produção muito altos.

O que pode ocorrer para os investimentos se a Fitch corroborar o rebaixamento dos títulos americanos?

Eu não sei quem tem de aparecer no mercado e acalmar o mundo. A grande diferença entre 2008 e agora é que, em 2008, não tinha carta de crédito nem para uma empresa como a Petrobrás! Setenta por cento do comércio mundial parou. Hoje, o mundo real está bombando. Só tem avião cheio! Óbvio que o problema das dívidas soberanas é muito grande. Mas a possibilidade de um calote americano é zero.

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