Maquiavel diz que o político vitorioso é aquele bafejado por dois dons: a fortuna (sorte, acaso) e a virtù (ética política, ética do poder).
Itamar Franco soube operar as duas virtudes maquiavélicas. Foi o homem certo na hora certa. E soube aproveitar.
Itamar surgiu na política nacional naquela espetacular vitória eleitoral de 1974, quando o MDB elegeu 16 senadores (em 22 estados).
Ali o dr. Tancredo Neves, que era deputado, não quis se arriscar a uma derrota, candidatando-se ao Senado, e o diretório regional escolheu um obscuro prefeito de Juiz de Fora para ser derrotado por Eliseu Resende.
(Aliás, diga-se de passagem que o dr. Ulysses também não quis se arriscar a enfrentar o ex-governador Carvalho Pinto e preferiu se candidatar a deputado. Resultado: o MDB-SP escolheu para ser derrotado um obscuro prefeito de Campinas, Orestes Quercia, que deu uma surra em Carvalho Pinto. Pois é.)
O resultado foi um “passeio” do MDB. O partido venceu nos principais estados, e Itamar foi o eleito por Minas Gerais.
Aí começa a trajetória oposicionista de Itamar Franco no plano nacional.
Sua presença ativa na CPI da Corrupção durante o governo Sarney, inclusive insistindo na convocação da deputada Roseana, filha do então presidente da República, para depor, chama a atenção do candidato Fernando Collor.
Itamar, senador em meio de mandato, ético como o quê, é o candidato ideal para Collor e sua corriola.
Mantido à margem das negociatas, Itamar assume depois do impeachment e do afastamento definitivo de Collor. Nesse momento, consolida-se a trajetória nacional de Itamar Franco.
A Presidência da República caiu, por acaso, no colo do ministro da Fazenda. Itamar fez o sucessor, coisa que não acontecia desde a República Velha.
Deixando a presidência, Itamar foi comissionado embaixador para ser mantido longe. Porque criava problemas o tempo todo.
Mas o fato é que dizia muitas verdades. Punha o dedo na ferida. Foi governador de Minas e recentemente elegeu-se novamente senador, na chapa de Aécio Neves.
Nos últimos meses, como senador parecia exercer – e ensinar aos pares – o verdadeiro papel de líder da oposição no Senado.
Quanto ao Plano Real, este será sempre o histórico feito de Itamar Franco.
Itamar estava no lugar certo na hora certa. Aproveitou as oportunidades para fazer coisas pelo país.
Ele fez o mais importante: bancou Fernando Henrique e a equipe.
Itamar pode até não ter entendido direito na hora do que se tratava, mas a concepção geral ele entendeu. E o mais importante de tudo: ele bancou a proposta.
Esse é o grande papel de Itamar Franco. E não é dizer pouco no episódio todo do Plano Real. Ele bancou a equipe, mesmo sem entender direito do que tratava.
Depois de tantas desmoralizações dos planos econômicos, veio mais um plano. Como a população iria receber?
O papel de Itamar Franco na História do Brasil está inteiramente garantido.
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