domingo, 10 de julho de 2011

As cidades e o desemprego

No seu pronunciamento de sexta-feira sobre as causas e consequências da crise do mercado de trabalho nos Estados Unidos, o presidente Barak Obama pareceu não dar importância à forte deterioração das finanças dos Estados e municípios como fator de desemprego.

Em junho, apontou o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos, enquanto o setor privado criou 57 mil vagas, o setor público fechou outras 39 mil.

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Obama. Setor público deteriorado (FOTO: YURI GRIPAS/REUTERS)

Nos Estados Unidos, funcionário público não tem estabilidade no emprego como aqui e na maioria dos países da Europa. Quando Estados e municípios não arrecadam o suficiente para suas despesas e, ao mesmo tempo, não conseguem convencer os bancos a financiar seus rombos, a quase única saída é fechar, ao menos temporariamente, serviços públicos e demitir pessoal. Corporações de bombeiros, escolas, centros de saúde e postos policiais vão sendo desativados e o pessoal que lá trabalhava vai para o olho da rua. Nessas condições, essa gente tem mais dificuldade para encontrar trabalho. Onde é que um tira cinquentão e barrigudo ou uma professora com 10 anos de magistério vai achar empregador disposto a contratar seus préstimos?

É nas grandes cidades que o desemprego do setor público se potencializa com o do setor privado. E, quando isso acontece, seu impacto político fica ameaçador. O jornal Los Angeles Times publicou artigo (The end of American optimism) na última sexta-feira em que trata da repercussão da crise sobre o ambiente das grandes cidades dos Estados Unidos. “Se países fossem, Nova York seria a 13.ª economia do mundo; Los Angeles, a 18.ª; e Chicago, a 21.ª.” Desde o início da crise financeira, em 2007, Nova York perdeu 385,2 mil empregos; Detroit, 23,4 mil; Los Angeles, 537,1 mil; e nada menos que 330 áreas metropolitanas nos Estados Unidos enfrentam agora um desemprego de 6%.

O impacto da falta de vagas não se circunscreve aos desempregados. Relatórios cada vez mais desoladores sobre as condições do mercado de trabalho são, por si sós, novos fatores de desemprego, na medida em que as próprias empresas demitem ou adiam contratação de pessoal por entenderem que o forte desemprego vai inibir o consumo. Investir numa paisagem desse tipo acaba sendo visto com temeridade.

Alguns analistas apressados vêm argumentando que a desvalorização do dólar diante das outras moedas poderia se tornar fator de criação de empregos, na medida em que favoreceria as exportações e inibiria as importações. O problema é que a renda proveniente das exportações é relativamente baixa nos Estados Unidos. Entra com participação de apenas 8% do PIB. Lá o que conta mesmo é o consumo interno.

O renitente desemprego nos Estados Unidos, que agora atinge 9,2% da força de trabalho (mais de 14 milhões de pessoas desocupadas), provavelmente será o grande tema do debate eleitoral de 2012 (veja, ainda, o Confira). Para não ir mais longe, desde 1992, primeira campanha eleitoral do então candidato Bill Clinton à Casa Branca, que arrasou nas urnas seu adversário George Bush (pai), todos nos Estados Unidos sabem que um mau desempenho nessa área é mortal para o candidato do governo.

CONFIRA

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O gráfico mostra a trajetória das cotações das commodities desde abril.

À procura do culpado. Nessa sexta, o site do diário USA Today avisou que o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney, que encabeça a lista dos pretendentes do Partido Republicano à disputa pela Presidência dos Estados Unidos, está insistindo no discurso de que o presidente Barack Obama falhou na sua tentativa de recuperar a economia. Paradoxalmente, quem mais atuou para virar o jogo sem tê-lo conseguido foi o presidente do Fed (o banco central americano), Ben Bernanke, que é republicano.

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