terça-feira, 29 de junho de 2010

DIAS E DIAS PARADOS.


O feriado religioso de Corpus Christi como sempre caiu em um quinta feira, e quem pôde enforcou a sexta e fez mais um final de semana prolongado. Não vou discutir a procedência de um Estado laico respeitar o feriado de umas religiões e não de outras, mas segundo os entendidos se trata de uma tradição e por isso é feriado. Na sexta pedi a produção do programa verificar quais órgãos públicos estavam trabalhando e noticiamos que o Tribunal de Justiça de São Paulo tinha autorizado o feriadão. O Tribunal de Justiça da Bahia também. Outros tribunais não foram encontrados e por isso não se noticiou se trabalhavam ou não na sexta feira espremida entre o feriado e o sabadão. Curioso é que vários funcionários dos Tribunais Superiores de Brasília protestaram contra a notícia dizendo que estavam trabalhando. Os da justiça eleitoral também registraram que estavam trabalhando. Obviamente que a intenção era somar esses dias parados aos 60 dias que magistrados e membros do ministério público gozam de férias todos os anos. Recentemente entrevistei um desembargador baiano que fez essa soma e chegou a um resultado estarrecedor dos dias e dias parados da justiça.

Vivemos o período da Copa do Mundo. As empresas privadas já se esquematizaram para repor as horas perdidas, ou ganhas, quando a pátria fica de chuteiras torcendo para os gols de Kaka e companhia. Todos de respiração contida, fazendo um esforço para ler os lábios do Dunga, e aproveitando o que se tem de melhor: de bermudão, com uma loira na lata, camisa do escrete canarinho, muita animação e um carnavalzinho depois da vitória. Esses feriados não constam da folhinha, é uma tradição e que aumentam de copa para copa. Há quem avalie que eles podem se estender por 4 ou 5 dias, depende dos resultados das próximas rodadas. Precisa tudo isso? Essa paradeira vai ser computada como despesa da seleção ?

Ninguém pode negar que é gostoso assistir o jogo na tevê, acompanhar os comentários oportunos e sapientíssimos de alguns narradores e comentaristas, e compartilhar da alegria geral. Mas é preciso parar? Só não se divertem os que estão em regime de plantão durante os jogos do Brasil. Estes coitados dão uma esticada de pescoço no televisor mais próximo, ou ficam sabendo que fizemos um gol quando começa a gritaria e os rojões, a alegria da cachorrada. O Brasil está passando por modificações significativas a caminho do grupo de nações emergentes. Os resultados econômicos são palpáveis, a visibilidade internacional aumentou, tem mais gente empregada, as mulheres ocupam um lugar na sociedade que nunca ocuparam, há inclusão social e racial, enfim, todos temos razões de nos orgulhar do pais que juntos construímos. No entanto é preciso abandonar velhas práticas coloniais, cliente listas, descabidas e que não ajudam o desenvolvimento nacional. Uma delas é rever o esquema de feriados nacionais, outra é acabar com privilégios como os 60 dias de férias. O Congresso está jogado ás moscas, também funciona com um esquema de plantão consuetudinário, ou seja, alguns se sacrificam pelos demais. Sem copa suas excelências estariam recebendo seus salários e ajudas de custo em suas bases editoriais, saboreando um recesso branco porque este é um ano eleitoral. Com a copa sumiram todos. Não há viva alma que queira ser identificado como um lesa pátria na hora de se juntar aos 200 milhões em ação e vibrar com a seleção. Os projetos que já não seriam votados este ano por causa da eleição, vão ficar para a próxima legislatura já com o hexa conquistado. Temas como fim do voto secreto, reforma política, tributária e trabalhista ficam para o ano que vem.


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