O que Lula deveria refletir no seu fim de semana
Seria o dia de uma consagração mundial. O presidente Lula recebendo o premio de estadista global do World Economic Forum. O primeiro governante a receber isso. Mesmo assim ele não foi. O que significa que deve ter ficado assustado com o mal estar que sentiu. Felizmente tudo controlado, ele está em São Bernardo descansando esse fim de semana.
Tempo em que ele deveria pensar no que o levou a esse pico de pressão. Noves fora o cigarro que ele voltou a fumar - e não deveria na idade dele - tem também a ansiedade com a campanha eleitoral. Ele, segundo me contou um dos seus assessores, acha que só poderá se considerar realmente vitorioso como governante se eleger o sucessor. Bobagem. Vários governantes bem avaliados não elegem o seu sucessor por vários motivos. Veja-se o caso de Michelle Bachelet: o maior índice de popularidade da América Latina - sim, maior do que o de Lula - e mesmo assim sua Concertacion acaba de perder a eleição. Ninguém acha que a derrota é dela.
Um dos acertos de Bachelet foi exatamente o de ter resistido à tentação de todo governante de usar a máquina para ungir seu sucessor. Ela foi discreta, deixou o povo chileno decidir, sem interferir. É difícil um governante popular fazer isso, mas foi o que ela fez. Deveria servir de exemplo.
Que a ansiedade com esta campanha que oficialmente nem começou está fazendo mal ao presidente se viu em Recife. O corpo avisou para ele ir com calma.
O que fica mais claro neste momento é que as instituições brasileiras não estão protegidas na pré-campanha. É agora que o jogo é injusto. Dois candidatos têm máquina: Dilma Roussef e José Serra. E nada os impede de usar o dinheiro público, os eventos públicos, o palco público, o destaque que normalmente a imprensa dá para decisões e atos governamentais para vender suas candidaturas. Serra está mais discreto, seguindo sua estratégia de só anunciar a candidatura na última hora, mas Dilma escancarou e ontem pediu voto diretamente. Pediu que a escolhessem como sucessora do Lula. Ela pode fazer isso assim tão descaradamente? O problema é que se não há oficialmente campanha, não há oficialmente regras de isonomia. Aí está a injustiça em relação aos outros candidatos. Por isso também o presidente deveria conter sua ansiedade e seu impulso de fazer campanha para a sua candidata de forma tão abusiva.
Estou convencida de que Lula será avaliado não pelo desempenho eleitoral de Dilma Roussef, mas pelo desempenho dele mesmo nesses oito anos. Se Dilma perder a eleição, o apoio que Lula tem hoje não desaparecerá; se Dilma vencer a eleição Lula não será consagrado rei do Brasil. O eleitor, a eleitora escolherão pelo candidato ou candidata que mais o convencer durante a campanha.
Esse é um ano importante do governo. O país vai crescer depois de um ano em que o Brasil teve um grande tombo. Crescia a taxas de 6% antes da crise e despencou para um pouco menos de zero. O Brasil deixou de gerar riqueza, perdeu um ano. 2010 é o de recuperar a atividade perdida e evitar excessos que podem comprometer o ritmo de crescimento. Por outro lado é a última oportunidade de fazer o que deixou de ser feito, se ainda houver tempo. A educação por exemplo é uma área de desempenho medíocre do governo Lula.
Lula agiu bem quando deixou os brilhos de Davos - onde foi ambientada a Montanha Mágica de Thomas Mann - e todos os elogios que ouviria, e todas as palmas que receberia, para ficar serenamente em casa recuperando do seu mal estar. Hora boa para refletir. Lula precisa reduzir a ansiedade e o tempo dedicado à campanha prematura da ministra Dilma, e pensar em governar. Ele foi eleito para governar todos os quatro anos desse mandato e não apenas três. Não deveria desperdiçar esses últimos e preciosos meses.
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