O perigo da desindustrialização do Brasil, em consequência do aumento das importações de matérias-primas, como o aço e outros metais, e de peças e produtos acabados, é muito maior do que o leigo imagina. O presidente da Associação do Aço-RS, José Antonio Fernandes Martins, que também é diretor da fábrica de ônibus Marcopolo, em Caxias do Sul, disse, ontem, que “a situação é perigosíssima”. E citou um dado contundente para justificar sua preocupação. Em 2006, há cinco anos, a balança brasileira de manufaturados era de US$ 5 bilhões positivos, isto é, favoráveis ao Brasil; agora, é de US$ 71 bilhões negativos, isto é, aumentaram as importações brasileiras e diminuíram as exportações.
Desindustrialização II
Outros empresários que estavam na reunião da AARS com os jornalistas confirmaram o perigo de desindustrialização e citaram casos específicos. José Eliseu Verzoni, conselheiro da Metasa, disse que a concorrência da China, da Índia e da Turquia “é feroz”. Contou que uma usina siderúrgica brasileira instalou um alto forno e, apesar de ser produtora de aço, portanto parceira dos demais, importou toda a estrutura metálica necessária para a obra. Uma empresa de celulose também importou, da China, uma estrutura metálica completa, no total de 5 mil toneladas de aço. E, o que é pior, segundo Verzoni, estão conseguindo importar tais estruturas como se fossem “equipamento”, o que garante imposto de importação de 16% e isenção de PIS e Cofins.
Desindustrialização III
José Ervilha, diretor da Usiminas, informou que as siderúrgicas temem a morte da indústria brasileira de tubos, que custou muito a construir, e hoje enfrenta esta concorrência externa “terrível”. “Há o risco muito grande de parar uma máquina de tubos e começar a importar o tubo, material que a infraestrutura brasileira e a Petrobras exigem cada vez mais”, afirmou. Os preços, no exterior, estão 1/3 mais baratos que no Brasil e “isso assusta”. Para complicar ainda mais a situação, começou uma forte pressão internacional para que o Brasil diminua as exigências de nacionalização em suas obras, principalmente as relacionadas com a Petrobras, a indústria naval e as plataformas of shore (alto mar) para exploração do pré-sal.
Desindustrialização IV
Por que isso está acontecendo? Por que importar se tornou mais barato do que produzir? Primeiro, pela valorização do real e consequente desvalorização do dólar. Depois, pelos pesados encargos que caem sobre a indústria nacional: encargos sociais, folha de pagamento, taxas de juros a 11%, gasto público de 40% do PIB, carga tributária de 37%, quando na Índia e China, por exemplo, não passa de 18%; logística caríssima, estradas ruins e portos caros, pois mover um contêiner custa US$ 5,00 em Amsterdã, e, em Santos, US$ 50,00. Odacyr Bortoluzzo, da Cemar Legrand, concordou que está cada vez mais difícil ser competitivo no Brasil.
Desindustrialização V
Os principais representantes da indústria nacional vão ter uma reunião com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, para entregar-lhe uma carta sobre o assunto e discutir a questão. Em virtude da necessidade do País de também exportar, a simples criação de barreiras para entrada dos produtos estrangeiros não será a melhor solução. Aumentar as alíquotas de importação não basta. Ninguém sabe a solução, mas a tendência será a criação de apoios à indústria nacional, diminuição de encargos sobre ela, de forma que volte a ter competitividade.
Marcopolo
A indústria gaúcha Marcopolo não desistiu de sua fábrica de ônibus no Egito. Apenas suspendeu seu funcionamento para evitar problemas com as manifestações populares que derrubaram o ditador Hosni Mubarak. Quando a situação acalmar, ela voltará a funcionar, informou, ontem, José Antonio Fernandes Martins, vice-presidente da Marcopolo. Dia 20, o complexo industrial em Ana Rech (Caxias do Sul), uma das mais modernas fábricas do mundo para a produção de ônibus, comemorou 30 anos. Tem capacidade para produzir cerca de 50 veículos diariamente e já fabricou aproximadamente 160 mil ônibus, entre micros, urbanos e rodoviários.
Preço do cobre
Não é só o aço que está aumentando seu preço no mercado internacional. O cobre, que andava em torno dos US$ 3 mil a tonelada, passou a custar US$ 12 mil a tonelada, segundo informação de Luiz Carlos Camargo, diretor da Galeazzi, que trabalha com metais não ferrosos (latão, cobre, bronze, alumínio).
Boa na propaganda
A Petrobras, em 2010, foi muito boa na propaganda, mas assinou poucos contratos de obras no setor da construção metálica. O comentário foi feito, ontem, pelo especialista em construções metálicas José Eliseu Verzoni, ao falar sobre o desempenho do setor, em 2010, e sobre as perspectivas para 2011, que ele espera ser muito melhor, especialmente na indústria naval e na construção metálica, “porque as encomendas estão crescendo”.
Fapergs
O coordenador-executivo do Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade, Luiz Pierry, foi nomeado pelo governador Tarso Genro vice-presidente do Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul.
O Dia
- A Unidade Sesc de Saúde Preventiva atenderá, até o dia 25 de março, em Santo Augusto.
- Segundo encontro 2011 da Abrasel-RS, às 19h, no Box 21 Bar e Restaurante, rua Carlos Von Koseritz, 304.
- A Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas comemora seu cinquentenário de fundação e empossa nova diretoria, da qual é vice-presidente o gaúcho Vitor Augusto Koch, em Brasília, às 20h.
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