quarta-feira, 20 de outubro de 2010

QUESTÃO RELIGIOSA

Mais cedo ou mais tarde a questão religiosa iria mostrar que havia um conflito latente entre o Estado e a Igreja. Ainda que o chefe do país fosse católico praticante, as forças antagônicas se enfrentavam continuamente, uma vez que havia uma contradição interna já detectada pelo governo. Faltou habilidade, conhecimento do processo histórico e mais do que tudo o entendimento das mudanças que o mundo vivia e que tinham que ser enfrentadas de uma forma ou de outra. Abandonar a questão era empurrar com a barriga uma questão que era vital, uma vez que envolvia o poderoso clero e setores liberais da sociedade de forte poder econômico, e portanto de opinião. É verdade que o conflito religioso se concentrou nas cidades do Brasil, mas a capilaridade das paróquias levou a polêmica para os rincões mais distantes.Com isso o governo que desfrutava de grande popularidade e respeito das populações começou a sofrer um desgaste e nem mesmo o destino do bom governante de barbas passou a interessar mais. Deus, o estilo de vida cristão, o conservadorismo vindo ainda das épocas coloniais, a ação dos homens representantes da divindade tinham um poder que não imaginavam. Conscientes dessa força passaram a influenciar o destino político do Brasil.
Subsistia por mais de três séculos o poder do padroado, isto é a igreja era uma instituição submetida ao poder político, o que lhe dava controle não só sobre o clero, como sobre assuntos eclesiásticos. Além disso ele tinha o direito de exercer o beneplácito, ou seja, nenhuma orientação, bula ou determinação do papa poderia ser aplicada no Brasil sem ter sido aprovada por ele. Os atritos foram tão poucos ao longo do tempo que ninguém se importava com isso, nem mesmo os bispos que jamais tinham escrito qualquer manifesto contra o governo para ser distribuído na basílica da padroeira. Nem mesmo foi necessário que ele lesse trecho da Bíblia em público, uma vez que sua viagem a Palestina, a terra de Israel, para uma visita aos locais sagrados do cristianismom falava por si só. Não havia prova mais contundente das suas ligações com a religião.
Diante de tanta ligação com a religião por que o bispo Macedo resolveu enfrentar um governo que inclusive era responsável pelos salários recebidos pelos homens de Deus? Expulsar maçons da religião, impedi-los de ir ao templo era criar uma crise política desnecessária, quando o Brasil tinha tantos outros problemas para discutir como a inclusão dos pobres na sociedade, desenvolver políticas compensatórias para negros e índios, assegurar o acesso à educação e saúde para todos e tantos outros problemas no âmbito do governo. Não era hora de discutir se o Estado era laico ou não, se ele deveria ou não interferir em questões de foro íntimo como fazer um não parte de uma confraria que tinha contribuído decisivamente para a independência política do Brasil.
O debate em torno de temas religiosos mostra quanto a sociedade brasileira era conservadora e religiosa. Os partidos políticos bem que tentaram ficar longe da questão religiosa, mas os republicanos usaram e abusaram do tema pois sabiam o desgaste que isso provocaria no governo e não economizaram munição para atingir diretamente até mesmo o genro do chefe, uma vez que ele também professava os ideais de liberação. A crise chegou no auge quando Dom Pedro II mandou prender os bispos Macedo e Vital por desobedecer ordens imperiais e atacar a maçonaria. Foram condenados e logo depois indultados pelo velho de barbas brancas, católico fervoroso, dedicado ao desenvolvimento do Brasil. Mesmo assim a polêmica ajudou a contaminar as estruturas do império e facilitou o advento da república.Laica.

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