quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

FECHAM -SE AS CORTINAS

Fecham-se as cortinas e termina o espetáculo.Durante anos e anos foi com esse bordão que o inesquecível locutor esportivo Fiori Gigliotti encerrava as transmissões esportivas na Rádio Bandeirantes. Era senhor de uma audiência imensa em todo o Brasil e era imitado por profissionais e amadores. Toda a torcida brasileira usava suas frases nas conversas do dia a dia. Desta vez foi no fechar das cortinas do ano legislativo que os parlamentares resolveram aumentar em causa própria os seus salários, e de quebra do presidente, vice e ministros. Foi um saco de bondades com o dinheiro público no momento que o medidor de arrecadação, o Impostômetro, atingiu a insigne marca de um trilhão e setecentos bilhões de reais arrecadados. Descontada a inflação, se arrecadou mais em 2010 do que no ano interior. Há ou não uma ligação direta entre a carga tributária e o distribuir desse dinheiro entre os apaziguados do poder?

O momento de votar foi meticulosamente planejado para ter o menor impacto possível entre os pagadores de impostos. Alias, os parlamentares não pagam imposto de renda sobre todos os penduricalhos que recebem, o que soma aproximadamente R$90,000,00 reais mensais. Só pagam sobre o “salário”, tudo o mais é considerado ajuda de custo, ou sei lá o nome eu dão. Os deputados que se arriscaram a levar a frente um projeto tão impopular ou não se reelegeram, ou então pertencem a bancadas ´de lobistas que não dependem da cobrança do eleitor. Deixam sempre para a prorrogação do segundo tempo, quando o árbitro consulta o seu cronômetro e um pouco antes do apito final, apresentam, distutem, distribuem para as comissões, votam e aprovam com uma velocidade eletrizante. É verdade que não é a mesma velocidade com que examinham um projeto que regulamenta o transplante de órgãos no Brasil, que já morga uns oito ou nove anos nas gavetas de suas excelências.Afinal cada projeto tem o seu peso específico e nada mais é tão importante do que aparelhar os ganhos dos parlamentares. Assuntos secundários podem esperar o sine die. No encerrar da partida, que vem seguida de um recesso de dois meses, é mais propícia a aprovação porque assim os pagadores de impostos esquecem durante as férias das excelências. Vem o Natal, com o espírito conciliador do Papai Noel, depois o Ano Novo, dia da confraternização mundial, depois o carnaval, depois….

Nunca é demais lembrar que os parlamentares recebem décimo terceiro, quarto e quinto salários, não pagam plano de saúde, que inclui odontologia, e outras mordomias. Viajam para o exterior em missões importantíssimas quando representam o parlamento brasileiro em questões cruciais para a manutenção da paz mundial, ou da reversão do aquecimento global. Obviamente ninguém viaja em classe econômica nem fica em espeluncas indignas de tão importantes protagonistas das mudanças contemporâneas. Em 2011 tudo volta ao normal, os pagadores de impostos se acalmam, resignam-se que não há outra saída, que esse é o preço da democracia e se recusam a acreditar nos detratores que insistem em mostrar que os parlamentares de Ibirapitanga são mais caros que seus colegas de Westminster ou do Capitólio. Pura dor de cotovelo de pretendentes frustrados que morrem de invejam e por isso difundem detalhes que não tem nenhuma relevância para a cidadania e o interesse público. Afinal a democracia brasileira é representativa e é preciso pagar bem deputados e senadores para que não se deixem corromper com ofertas feitas por lobistas de todos os matizes. Pagar bem o funcionário público é uma garantia que ele não vai pegar nenhuma propina nem apresentar e aprovar uma emenda que distribui um milhãozinho para uma entidade pública fantasma. Para não se comprometer aprova a emenda do colega e este aprova a emenda dele. É a aprovação cruzada, que escapa dos olhos do contribuinte e da fiscalização da imprensa. Torcida brasileira, fecham-se as cortinas e termina o espetáculo.

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